quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Política X Politicagem


Política é arte. Observe como os políticos fazem um teatro em época de eleições. Política hoje é a arte de ludibriar. Política séria, faz tempo que eu não vejo.” Essas frases eram uma resposta dada no sítio Yahoo! Respostas por um estudante à pergunta “O que é política?”.
Bem, como chegamos a este ponto é fácil saber, o que o estudante não sabe é que todos somos políticos, como definiu Aristótelis: o homem é por natureza um animal político. No nosso dia-a-dia fazemos muita política, e política séria!
O sentido dessa palavra se perde a partir do momento que só se enxerga ela como cargo / função, porque cai na análise superficial do senso comum que acha que quem faz política é só político e que eles fazem isso pra roubar o dinheiro do povo. Na sua origem e na realidade política é totalmente diferente disso.
Ela surgiu da própria necessidade humana de se relacionar uns com outros e com o mundo. Tanto que a condição sine qua non para existência da política é a pluralidade dos homens, pois seu objetivo é justamente organizar, regular, garantir o convívio dos diferentes em prol do bem comum. Quando encaminhamos uma reclamação para um órgão na tentativa de garantir um direito, estamos fazendo política; quando há muita gente pra entrar em um local e fazemos uma fila para evitar bagunça, também; assim como quando um vereador faz uma lei para melhorar as condições do município. Diferentemente do que pensa os mais desavisados, para o nosso bem, ela deve estar presente em nossas vidas, pois através dela conseguimos dirimir os conflitos dos mais simples e cotidianos aos maiores e mais complicados.
Normalmente acontece de a política ser confundida com politicagem, porque a questão da politicagem é muito veiculada pelos meios de comunicação e normalmente está associada ao Estado, então todos conhecem. Ainda não conseguimos entender o processo político como um todo, muito menos fazê-lo acontecer de verdade na esfera do governo em uma escala global e, comumente atribuímos à política ações que, na verdade, são o mais puro retrato da falta dela.
Em se tratando de Brasil, não é difícil entender porque ao invés de política nosso governo é conhecido mais pela politicagem. A cada gestão explode um (ou alguns) caso(s) de corrupção, muitos deles passam por intermináveis investigações que nada comprovam e, se comprovam, não se vê o indivíduo ou empresa sendo penalizados de fato. Porque a lógica é se é ladrão, tem que ir para a cadeia. Aqui temos a falta de punição adequada para coagir tais atos e preveni-los. Não à toa eles se tornaram corriqueiros.
Em âmbito internacional também há muita confusão em relação a este termo. Quando Bush invadiu o Iraque e desencadeou uma guerra por lá, essa atitude foi chamada e ainda hoje é conhecida como “política de guerra” daquele governo. Maior incongruência não poderia haver. Se há guerra é porque ali faltou política, na presença desta não deve haver imposição, utilização de força para fazer valer uma idéia, isto sucumbe a liberdade, e não há como fazer política sem liberdade. Por esse mesmo motivo, os governos ditatoriais não se utilizam da política, pois partem do individual para o coletivo pela imposição e pela força, suprimem liberdades, algo inadmissível. E para concordar com Hanna Arendt, “o perigo é a coisa política desaparecer do mundo”, pela confusão de achar que algumas atitudes contrárias à política são em si políticas. Para impedir o fim da política a tarefa será árdua. É necessário mudar uma imagem historicamente arraigada na mente das pessoas. O desafio é conscientizar aquele que diz odiar política de que sua atitude nesse momento nada mais é do que uma ação política, seu ato de se posicionar, mesmo erroneamente, revela sua liberdade de questionamento.
Ao tempo da conscientização da sua politicidade, deve-se também mostrar que quando ele se nega um ser político, aquele que se assume político tem muito mais condições de decidir sobre sua própria vida e a dele (ser teoricamente apolítico). Se nós nos assumíssemos como verdadeiros seres políticos, levando a sério todos os nossos direitos e obrigações, nos tornando indivíduos mais participativos na sociedade, dificultaríamos bastante a politicagem praticada pelo Estado e por muitos de nós.
Estaríamos mais atentos as atitudes individuais nos ambientes coletivos e fiscalizaríamos tudo o que é do interesse comum. Mas aí esbarramos na problemática da atual democracia: a democracia de massa, na qual o cidadão se reconhece, ou se quer reconhecer, mais como um consumidor do que como um cidadão propriamente. E como consumidor ele não tem interesses coletivos, se sua vida individual ou familiar está a contento, ser cidadão, de repente, se resume a votar.

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